Filho de imigrantes pobres, judeus da Bessarábia, hoje território entre Rússia, Romênia e Moldávia, eu nasci no bairro Ipiranga, em São Paulo. Sou o primogênito de dois filhos, eu e meu irmão Jacob. Em princípio, meu nome em hebraico é “Haim Nusse Bem Mosche” (algo como Doar Vida, Filho de Moises), o qual foi transliterado para Jayme. Já o sobrenome “Murahovschi” herdei do meu pai, Moyses Murachovsky.

Foi por meio de um jornal ídiche (judeu) socialista que minha mãe, Anna Steinberg, me ensinou a ler. Por isso, cresci com o ideal de um socialismo utópico que iria transformar o mundo e o próprio homem para melhor. Talvez, por conta disso, eu tenha comigo um sentimento muito forte de respeito, solidariedade e tolerância à pessoa humana, independente de suas condições sociais.

Todo o enorme esforço, à beira do sacrifício, dos meus pais era dirigido à criação e educação dos filhos. A meta era clara: dar-lhes instrução, considerada como garantia de sustento e instrumento de ascensão social.

Na 1ª infância, sofri de uma diarreia persistente e os médicos do bairro Ipiranga não deram jeito. A solução foi me levar a um dos melhores pediatras de São Paulo, Dr. Mário Margarido Filho. Bem mais tarde, já pediatra, fiz o meu diagnóstico retrospectivo de intolerância à lactose.
O tratamento (correto) tinha sido à base de um leitelho pobre em lactose (Edel, um leite suiço importado).
O próprio Dr. Margarido sugeriu aos meus pais que completasse o tratamento com seu assistente, o jovem Dr. Gomes de Mattos, que dirigia uma clínica no próprio bairro em que morávamos e ainda por cima gratuita. Foi assim que eu fui matriculado na Clínica Infantil do Ipiranga (CII).

Cresci no meio do que se poderia chamar quase de “um culto” em relação ao Dr. Margarido, aliado a uma respeitosa admiração pela CII. Dessa maneira emocional foi sendo introjetada em mim a ideia não só de ser médico, mas especificamente Pediatra.

Fiz meu curso de Medicina na Faculdade de Medicina da USP. Minha turma foi a primeira a ter o 6º ano como internato hospitalar. Em 1957, fiz Residência no Hospital das Clínicas da FMUSP, mas apenas R1. Desisti do R2 porque naquela época achei que não valia a pena. Depois, estava na hora de começar a trabalhar!

Com a ajuda de meu pai, abri um consultório no bairro Ipiranga, que havia se tornado um bairro de classe média, e ajudei algumas gerações de crianças em condições sociais e econômicas díspares. Na mesma época, fui me apresentar na CII onde fui aceito para trabalhar (de graça, naturalmente).

Posteriormente, mudei o consultório para os Jardins, em São Paulo, e continuei a acompanhar o desenvolvimento das crianças até se tornarem adultos. Além disso, recebia de colegas casos considerados difíceis ou para segunda opinião, principalmente em Gastroenterologia, minha especialidade.